Crime e poder na visão de Lucrécia Bórgia

M. G. Scarsbrook é escritor, historiador e roteirista

Sou pouco afeito a romances históricos, por achar que esses textos nem sempre são ricos de significados. Mas na semana passada me rendi a um deles depois que comecei a ler as primeiras páginas por curiosidade e quando dei conta percebi que a leitura avançava com fôlego incomum, movida pelo texto coloquial e por um clima misterioso em torno de crimes, o que me remetia aos filmes de suspense.

‘Veneno nas veias’ é um livro de autoria de M. G. Scarsbrook, pseudônimo de Mathew Graham  Scarsbrook, escritor e roteirista canadense que atualmente vive na Inglaterra e que fez sucesso com o thriller histórico ‘A conspiração Marlowe’, que virou best-seller quando foi publicado no exterior.

O romance traz a história de Lucrécia Bórgia, filha do papa Alexandre VI, que viveu entre os séculos 15 e 16, e virou lenda na cultura ocidental por ter protagonizado histórias de lascívia e assassinatos, em meio a uma família movida por ambição e poder.

De origem espanhola, o papa exercia influência sobre os reinos da Europa, corrompendo príncipes, políticos, cardeais e bispos. Lucrécia, dona de beleza incomum, teria vivido relações incestuosas com o irmão César, que se torna um déspota ambicioso, fonte de inspiração para o embaixador Nicolau Maquiavel, também personagem do romance, que naquele momento escrevia sua obra capital, ‘O Príncipe’, referência em filosofia política.

Scarsbrook adota o ponto de vista de Lucrécia, colocando-a como narradora em primeira pessoa. É uma forma de humanizar essa personagem que ficou conhecida como uma das mulheres mais cruéis da história, sem haver, no entanto, provas cabais de seus crimes. Diz a lenda que Lucrécia guardava veneno em um anel para usá-lo contra seus inimigos.

Lucrécia já foi contada várias vezes no teatro, cinema e literatura. ‘Lucrécia Bórgia’ foi, por exemplo, título de uma peça do escritor francês Victor Hugo (1802-1885), em que ele destaca as orgias de que participavam todos os membros da família. O papa, aliás, vivia cercado de cortesãs.

O americano Mario Puzo (1920-1999) também escreveu ‘Os Bórgias’, sobre a família que envenenava pessoas sem escrúpulos, apoderando-se de seus bens, e acumulando fortunas nos cofres papais, impondo um poder que governou Roma por anos. A trajetória da família ambiciosa e corrupta também virou história em quadrinhos e se tornou série de TV. Lucrécia Bórgia é um personagem do imaginário popular.

 

Veneno nas veias: memórias de Lucrécia Bórgia,

M. G. Scarsbrook, Geração Editorial, 2010, SP, 335 págs.

 

Foto: Divulgação

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