Desde a promulgação da Constituição de 1988, a imprensa no País passou a exercer o papel de informar com mais liberdade. A democracia permitiu que os veículos de comunicação se aproximassem do cotidiano do cidadão e ao mesmo tempo conferissem mais transparência aos bastidores da política e do mundo empresarial, revelando escândalos e processos de decisão que nos tempos da ditadura jamais chegariam ao público.
A imprensa se tornou uma espécie de “contrapoder”, reforçou seu estatuto de fiscal e porta-voz da população, e passou a influir de forma decisiva no processo eleitoral. A história sobre como essa transformação aconteceu está no livro ‘A modernização da imprensa (1970-2000)’, de autoria da socióloga Alzira Alves de Abreu, doutora pela Sorbonne e pesquisadora do perfil dos jovens que atuaram na luta armada a partir do fim dos anos 60.
“Mas também é verdade que as denúncias e os escândalos fazem aumentar a venda de jornais e subir a audiência da televisão e do rádio. O jornalismo-cidadão não é, portanto, avesso ao lucro”, afirma a professora, que apresenta nesse livro um panorama das relações de poder na comunicação. Esse assunto interessa a todo leitor que pretenda ter uma visão crítica sobre a informação, e exercer seu papel de cidadão com mais propriedade.
Atualmente, a demanda por transparência está adquirindo também o sentido inverso. A sociedade exige dos órgãos de imprensa que os processos de construção da informação sejam conhecidos. Isso é o que está em pauta no caso do “manchetômetro” (http://www.manchetometro.com.br), um site de monitoramento da cobertura da imprensa nas eleições deste ano, criado por grupos de estudos de comunicação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
A grande sacada do pessoal da UERJ foi desenvolver o conceito de “valência” das notícias, traduzindo em gráficos a contagem das manchetes positivas e negativas para cada candidato à presidência. A pesquisa tem por base os jornais Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de São Paulo, e o televisivo Jornal Nacional. Quem acessar os gráficos do manchetômetro vai notar que esse grupo de mídia tem clara oposição à reeleição de Dilma, que recebe dez vezes mais chamadas negativas do que os outros candidatos.
Mas a demanda por transparência na mídia é anterior ao manchetômetro. Ela está também no pleito de sindicatos para democratizar a mídia, contra o monopólio econômico e de ideias, conforme defende o ex-ministro das comunicações e jornalista Franklin Martins. Segundo ele, a mudança consiste em que o setor de comunicações siga os preceitos constitucionais, que garante a diversidade de informação e o pluralismo ideológico.