Se você já leu ao menos umas poucas notícias sobre o ex-ativista italiano Cesare Battisti há de concordar que entre jornais e sites reina uma falta de consenso sobre quem é, afinal, esse personagem.
A figura do “terrorista” impiedoso, acusado de quatro assassinatos nos anos 70 na Itália, se contrapõe à imagem do escritor e ativista de esquerda tomado como bode expiatório pelo governo de um país que a partir do período pós-guerra passou a combater o pensamento progressista com ferocidade atroz.
Cada um pinta a realidade com as cores que traz dentro de si. É por isso que existe a polêmica em torno de Battisti, e os fatos parecem não obedecer a uma lógica. “Como pode o presidente Lula garantir refúgio a um criminoso”, vi algumas pessoas perguntarem.
Desde que foi preso no Brasil em 2007, enquanto tentava fugir da sentença decretada pela justiça italiana, Battisti assumiu papel de vilão ao mesmo tempo em que políticos como o senador Eduardo Suplicy e movimentos de defesa dos Direitos Humanos o tomaram como emblema da resistência ao fascismo e ao linchamento moral.
Nesse contexto de opiniões polarizadas, o novo livro do sociólogo e professor das universidades Unicamp e UERJ, Carlos A. Lungarzo, ‘Os cenários ocultos do caso Battisti’ (Geração Editorial), tenta jogar alguma luz sobre a discussão, esmiuçando os fatos que estão por trás das acusações contra Battisti e identificando uma conspiração que começou quando o ativista rompeu com o comando das ações do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo), grupo do qual participava.
Essa ruptura teria aberto caminho para que ex-companheiros de luta de Battisti reduzissem suas penas com o recurso da delação premiada, enquanto os magistrados italianos lançavam mão de fraudes para imputar a Battisti crimes cujos culpados já estavam condenados e presos.
Imagens da luta
E já que o assunto é a resistência ao autoritarismo, a editora Escrituras e o Instituto Vladimir Herzog lançam um catatau de 254 páginas, em formato 29 por 38 centímetros, com os cartazes da resistência à ditadura militar no Brasil.
O livro ‘Os cartazes desta história’ reúne material do período de 1964 a 1985 e foi viabilizado a seis mãos, com a pesquisa de Vladimir Sacchetta (organizador), José Luiz Del Roio e Ricardo Carvalho. A obra é uma boa referência para quem valoriza a memória iconográfica brasileira.
P.S.: Em função das festas de fim de ano, farei uma pausa no blog Livros & Ideias pelos próximos dias. Os posts voltarão a ser publicados a partir de 7 de janeiro.