Leitura de ressaca

Romário – Deterioração do futebol “sugado por cartolas” (Arquivo Romário/Facebook)
Romário – Deterioração do futebol “sugado por cartolas” (Arquivo Romário/Facebook)

A trágica goleada que o Brasil levou da Alemanha no Mineirão e a derrota para a Holanda alteram o cenário do legado da Copa no País. Se antes o que ficava do evento esportivo eram estádios, obras de infraestrutura como os aeroportos e a exposição de uma imagem positiva do Brasil no mundo, agora fica também a necessidade de pensar as derrotas históricas frente à estrutura do futebol brasileiro.

Ao responder uma pergunta sobre o custo dos estádios da Copa, a presidente Dilma, em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, da CNN, disse por que é a favor da renovação do futebol: “Eu queria dizer que o Brasil não pode mais continuar exportando jogador. Exportar jogador significa não ter a maior atração para os estádios ficarem cheios”.

Levar adiante uma reforma no futebol é um desafio que pode requerer o enfrentamento de grandes e poderosos interesses. Se o leitor quiser ter uma dimensão dos problemas do futebol no País pode procurar o livro ‘O lado sujo do futebol’, de Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet.

O livro é uma longa e exaustiva reportagem sobre a politicagem por trás da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e mostra como a instituição é gerida com base em negociatas e interesses particulares.

A investigação é puxada pelo acidente de automóvel em 1995, na Flórida (EUA), que levou à morte a jovem Adriane de Almeida Cabete, então com 23 anos. Adriane seria pivô da separação do cartola Ricardo Teixeira de Lúcia Havelange, filha do então presidente da Fifa, João Havelange, e a partir do acidente começa a ser revelada a rede de nomes que se favoreceram ao redor da CBF.

O ex-jogador e deputado federal Romário retomou o assunto da gestão do esporte em sua página no facebook após a derrota para a Alemanha: “Nosso futebol vem se deteriorando há anos, sendo sugado por cartolas que não têm talento para fazer sequer uma embaixadinha. Ficam dos seus camarotes de luxo nos estádios brindando os milhões que entram em suas contas. Um bando de ladrões, corruptos e quadrilheiros! O meu sentimento é de revolta.”

Mas, além do impacto político da derrota, o impacto cultural, simbólico, digamos, foi expresso por Teresa Borba, filha do goleiro Barbosa, que na Copa de 1950, levou na final, no Maracanã, o gol que cedeu o título ao Uruguai. Em entrevista, ela disse ao site de esportes ESPN: “Perder foi bom pela memória do meu pai”. Segundo a filha, o espírito de Barbosa pode agora descansar em paz, já que o Maracanazo é fichinha diante do Mineirazo.

 

O lado sujo do futebol - capaO lado sujo do futebol,

Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet, editora Planeta do Brasil, SP, 2014, 400 págs.

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